Em quê tempo você vive?

Foto: Tom Ridley - Fonte: GettyImages

Vamos imaginar que o tempo, que é abstrato, pudesse se transformar num espaço bem concreto. Quando você olha ao seu redor, você vê seu passado, seu futuro ou seu presente? Me dei conta esses dias de que existem pessoas que vivem muito mais no passado ou no futuro do que no presente. "Como assim?" você deve estar pensando. Pois bem... vou desenvolver a idéia.

Algumas pessoas vivem lá no futuro. Olham em volta e vêem suas metas, desejos e planos para o futuro concretizados. O carro, o salário, o emprego, o marido/esposa são os melhores que se poderia ter!E esses planos se tornam tão concretos, mas tão concretos que toda a sua vida gira em torno disso. Você se pega pensando horas a fio nessa imagem ideal da vida que você "um dia vai ter"! O futuro determina como você organiza seu dia,  o quê você prioriza e o quanto você pode ser feliz. Essas pessoas olham para o presente e vêem a falta. A casa onde ela vive de aluguel é ruim porque não tem a piscina e a churrasqueira que a sua casa própria um dia vai ter! O carro é pequeno demais e se você tivesse o ar condicionado que o carro que você vai ter um dia tem, o trânsito iria te estressar muito menos! E assim, o presente deixa de ser presença para se tornar ausência!Você olha em volta e só vê o que podia ter mas não tem! Quem pode ficar satisfeito vivendo assim?! Que vida pesada de se viver! Metas e planejamento são ótimos aliados para a construção de uma vida feliz, satisfatória e que atenda as suas necessidades. São até impulsionadores de uma vida mais movimentada e desafiadora, mas, como tudo na vida, é preciso cuidar dos exageros, se não, a satisfação fica sempre condicionada ao amanhã : "Quando eu tiver subido de cargo..." , "quando eu tiver a casa própria..." , e tantos outros condicionais. O problema disto é que esse amanhã pode não chegar nunca pois o tempo de ser feliz vai caminhando sempre um pouco na sua frente! Você até enxerga a felicidade, mas ela está sempre a uns passos na sua frente. E você não pára para se dar conta do que está a sua volta e que, de repente, a felicidade poderia estar caminhando com você de braços dados!

Outras pessoas vivem lá no passado, seja em lembranças boas ou ruins. Em toda a situação que ela vive, algo a lembra de uma situação semelhante no passado. E o passado se torna a medida para dizer se o presente está bom ou não. Então, o namorado novo pode ser uma ótima pessoa com quem ela se sente feliz, mas... não chega aos pés daquele grande amor que ficou no passado! Hum... mas o amor do passado não ficou lá no passado?! Será que ele pode existir de novo, do mesmo jeito, no presente, quando todo o contexto é outro?! Acho que não... E as fantasias acabam traçando um ideal de vida cujo presente nunca chega aos pés do passado! E aí, que graça tem conhecer uma pessoa nova se você está procurando uma pessoa que você já conheceu dentro dela?!  Ou então, você olha em volta e acredita que as situações ruins e difíceis do passado estão sempre se repetindo e não se abre para viver o novo, que está no presente. É uma forma de se proteger do que pode dar errado, mas que também a aprisiona, impedindo-a de experimentar o lançar-se ao novo (que pode dar bem mais certo do que se imagina!). É claro que abrir mão da vida no passado implica um risco: a imprevisibilidade. No presente bem vivido como presente, não há o gabarito traçado. E claro que assim você corre o risco de errar, mas também "corre o risco" de acertar em cheio! E o acerto sem a cola é bem mais gostoso!

Então... percebeu que o resultado das duas situações acaba sendo uma insatisfação com o presente? Acabamos desta forma, comparando o presente a um ideal que não está de fato presente na realidade concreta, mas na "realidade imaginária", nas nossas fantasias. E o presente é o tempo mais real e possível de mudanças. No presente, é possível revisitar o passado, entendê-lo, aprender com as situações já vividas e construir um novo significado para elas. No presente, é possível também construir novos sonhos e pô-los em prática, agora mesmo! O presente é o tempo que existe realmente , o resto nada mais é do que abstração. Passe da abstração e traga passado e futuro para os possibilidades de mudança que o presente te dá, porque o presente além de comportar as mudanças também acolhe a presença de passado e futuro com muita facilidade!

Já falei antes e enfatizo: não há problemas em viver assim, contanto que você esteja feliz e não viva em nenhum dos extremos por muito tempo. As lembranças gostosas do passado, as situações tristes vividas que te fortaleceram e os planos futuros podem ser integrados no seu presente como mais uma forma de viver a vida, enriquecendo-a. O problema acontece  quando uma destas formas se torna a única!

 Agora, não se desespere se você percebeu que está preso em um destes lugares imaginários e não sabe como sair. Perceber onde você está já é um caminho para a mudança, já é uma parte da mudança em si. E se isso te incomodar muito, procure um profissional e o convide para esta caminhada. Ajuste suas passadas e caminhe ao lado dos ponteiros do relógio, o resultado pode ser fascinante, produtivo e muito nutritivo!